Carros do futuro já andam aí

27-10-2010 19:48

Automóveis que todos podem comprar desligam-se sózinhos, têm cada vez menos correias e gastam cada vez menos. Em contrapartida deixaram de trazer pneu sobressalente. São os carros do futuro com start and stop

Antigamente se o nosso carro ia abaixo num sinal luminoso era mau sinal. No mínimo era o ralenti desafinado. Agora são cada vez mais os carros que o fazem sózinhos: o sistema "start and stop" generalizou-se e deixou de ser um exclusivo das viaturas de topo de gama. Encontra-se em modelos correntes, desde a Fiat à Kia ou da BMW à Honda. Basta tocar na embraiagem e o motor volta a pegar logo. E com estes segundos de motor desligado pode poupar-se até um litros aos cem em condução citadina.

Se julga que tecnicamente isto é fácil, desengane-se. O sistema não é um extra: ou vem de origem com o carro, ou nem pensar em acrescentá-lo: obriga a alterar tudo, desde o motor de arranque à bateria, sem esquecer sensores de movimento e electrónica que baste. É só olhar para a grossura do manual técnico respectivo da BMW para ter ideia de como uma coisa simples (para o utilizador) pode ser complicada (para o construtor).

Adeus alternador!

 

De resto na marca germânica optou-se (por exemplo na nova série 3) por abolir o alternador. Tal como este, nos anos 60, mandara o dímano para o museu, agora é a recuperação de energia na travagem quem carrega a bateria. Tal como nas locomotivas e nos carros híbridos. Menos uma correia e menos um rotor a girar significa menos inércia para o motor arrastar e isto ajuda a explicar os consumos abaixo dos cinco litros (na versão diesel) que a marca anuncia.

Três litros aos cem

 

São já várias as marcas, com destaque para a Seat e a VW, a centrarem a publicidade de modelos recentes em consumos verdadeiramente surpreendentes: menos de quatro litros aos cem o que corresponde a roçar a, até há pouco mítica, barreira dos 90 g de CO2 por quilómetro percorrido, resultado que, de resto, os novos automóveis híbridos já garantem. No entanto, os modelos à venda, mesmo os mais sofisticados, continuam tanto mais eficientes e convincentes, quando menos nos afastamos do ambiente urbanbo e suburbano.

Em estrada aberta, ou se pratica uma condução muito calma, ou os consumos desiludem. Daí a aposta da Honda numa versão híbrido-desportiva para o seu modelo CR-Z.

Correias desaparecem


As correias que fazem mover alternadores, bombas de água e de óleo, etc, tendem a desaparecer. A maior parte das direcções assistidas actuais já são eléctricas. E nos carros híbridos de última geração como o Toyota Auris a lançar entre nós em Setembro (por pouco mais de € 5.000) desaparecem de todo, o que embaratece a manutenção e aumenta a fiabilidade: adeus correias partidas inopinadamente ou que se têm que mudar (e pagar) a intervalos programados!

Pneu sobressalente?

 

O lado menos bom do progresso tecnológico é que os construtores dispensam cada vez mais o velho pneu sobressalente. Já nem vêm aquelas rodas de brinquedo que só aguentam 60 km/h, substituídas por um compressor e uma bomba de mousse. Primeiro, é menos peso a bordo, logo menos consumo. Depois, é menos uma parcela a onerar o orçamento do carro.

Há optimistas que não se importam com isto e acreditam que a sorte os protege dos furos e proclamam que não pegam no macaco há anos. Com as ruas de Lisboa no estado em que estão custa a crer... Até porque só carros de topo de gama utilizam, para já, a tecnologia "run flat" que permite rodar um bom par de quilómetros furado (não sendo garantido que o pneu tenha reparação).

Como vender barato

 

No meio de tudo isto há uma abordagem oposta mas nem por isso menos eficaz, a da Renault com a sua "marca branca" Dacia. O exemplo maior é o SUV Duster que será vendido na sua versão de topo a pouco mais de €20.000. O truque dos projectistas foi fazer como os astronautas da Apolo XIII quando houve uma explosão a bordo a caminho da Lua: recorrer só ao material que há a bordo (neste caso nos armazéns do construtor francês).

O motor é o conhecido 1.5 diesel que já equipou Clios, Meganes, Kangoos, etc. O eixo de trás é o da pick-up 4x2 da marca. O da frente é inspirado no veículo de tracção integral Koleos. Cablagens de vidros eléctricos, fechaduras, etc passam pelos sítios mais simples, evitando, por exemplo interruptores nas portas. É o verdadeiro veículo do PEC e, talvez por isso, já está com quatro meses de espera antes do lançamento oficial...

 

—————

Voltar